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A Divindade e a Ressurreição de Cristo nas epístolas de Paulo: uma análise

Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia...”

(1 Cor 15,3-4)

São Paulo escrevendo suas cartas. Quadro de Valentin de Boulogne.

Introdução

A correta datação das epístolas de São Paulo é questão de capital importância para a história da fé cristã e para a defesa da sua veracidade contra os ataques do ceticismo moderno. 

Estas cartas não são apenas os escritos cristãos mais antigos que chegaram até nós, mas também o mais próximo testemunho documental do evento central da fé católica: a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sua composição é anterior à redação dos evangelhos, razão pela qual constituem o primeiro eco escrito da tradição apostólica viva.

Neste artigo, propomos demonstrar, de forma sistemática, que as epístolas autenticamente paulinas foram compostas entre os anos 50 e 62 d.C., ou seja, meros 20 a 30 anos após os acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. 

Essa datação não é apenas plausível, mas fundada sobre um edifício sólido de argumentos internos, externos, patrísticos e teológicos.


1. Classificação das Epístolas Paulinas

A tradição e a crítica textual dividem as epístolas atribuídas a São Paulo nos seguintes grupos:

  1. Epístolas Autênticas (indiscutivelmente paulinas):
    Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, Filemon.

  2. Epístolas Deutero-Paulinas (disputadas por estudiosos modernos, mas recebidas pela Igreja como inspiradas):
    Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses.

  3. Epístolas Pastorais (questionadas por alguns devido ao estilo e vocabulário):
    1 e 2 Timóteo, Tito.

  4. Epístola aos Hebreus: tradicionalmente atribuída a Paulo no Ocidente, mas com autoria incerta no Oriente.


2. Cronologia Provável das Epístolas Paulinas

1. 1 Tessalonicenses (c. 50-52 d.C.)

Escrita em Corinto, durante a segunda viagem missionária. Trata da esperança cristã na segunda vinda de Cristo e é comumente considerada a epístola mais antiga do Novo Testamento.

2. Gálatas (c. 54-55 d.C.)

Redigida em meio à controvérsia com os judaizantes, defende a justificação pela fé. Sua cronologia depende de sua relação com o Concílio de Jerusalém (At 15).

3. 1 e 2 Coríntios (c. 55-57 d.C.)

Surgem em resposta às divisões, escândalos morais e controvérsias doutrinais da comunidade de Corinto. Contêm importantes testemunhos litúrgicos e o mais antigo credo pascal cristão (1Cor 15,3-5).

4. Romanos (c. 57-58 d.C.)

Redigida em Corinto antes da viagem a Jerusalém, é a mais sistemática exposição da teologia da graça e da justificação.

5. Epístolas do Cativeiro (c. 60-62 d.C.)

Incluem Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon, escritas durante o primeiro encarceramento de Paulo em Roma (At 28,16.30).

6. Epístolas Pastorais (c. 63-66 d.C.?)

Supõem uma nova fase de viagens após a primeira libertação de Paulo. Refletem uma Igreja com estrutura eclesial mais desenvolvida.


3. Argumentos em Favor da Datação Antiga (anos 50–60 d.C.)

3.1. Argumentos Internos

  • Estilo e vocabulário compatíveis com o grego koiné da primeira metade do século I.
  • Falta de sistematização doutrinal tardia: as cartas apresentam a fé cristã em forma de kerygma (anúncio), não de tratados escolásticos.
  • Referência a personagens vivos (Pedro, Tiago, João – Gl 2,9) e a situações que antecedem a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.).
  • Estrutura eclesial incipiente: nas cartas mais antigas, a Igreja aparece ainda como comunidade carismática, não hierárquica, o que corresponde ao estágio nascente da fé cristã.

3.2. Argumentos Históricos

  • A inscrição de Delfos, descoberta arqueológica, menciona o procônsul Lúcio Júnio Gálio na Acaia, em 51-52 d.C. (cf. At 18,12), o que confirma a presença de Paulo em Corinto nesta data e, portanto, a redação provável de 1 Tessalonicenses nesse contexto.
  • Os Atos dos Apóstolos, embora escritos posteriormente, fornecem uma moldura cronológica confiável que concilia os dados históricos com os das epístolas.

3.3. Argumentos Patrísticos

3.3.1. São Clemente Romano († c. 96 d.C.)

Na Primeira Carta aos Coríntios, Clemente escreve:

“Tomai a epístola do bem-aventurado Apóstolo Paulo. O que escreveu ele primeiro a vós em princípio do Evangelho? Na verdade, sob o influxo do Espírito, escreveu a vós com carinho e cuidado...”
(1 Clemente, cap. 47)

Comentário:
Esta é uma menção direta à 1ª Epístola aos Coríntios, já considerada escritura autoritativa pela Igreja de Roma no final do século I. Note-se a expressão “sob o influxo do Espírito”, o que implica inspiração divina.


3.3.2. Santo Inácio de Antioquia († c. 107 d.C.)

Na Carta aos Efésios:

“...vós sois companheiros nos mistérios com Paulo, o homem santo, o mártir, merecidamente bem-aventurado, cujas epístolas, se as lerdes cuidadosamente, podereis tornar-vos fortalecidos na fé.”
(Inácio, Carta aos Efésios, cap. 12)

Comentário:
Inácio reconhece um corpus epistolar de Paulo, já reunido e em circulação. Recomenda sua leitura para crescimento espiritual e doutrinal.


3.3.3. São Policarpo de Esmirna († c. 155 d.C.)

Na Carta aos Filipenses:

“Nem eu nem outro como eu pode se comparar à sabedoria do bem-aventurado Paulo, o qual, estando entre vós, ensinou com exatidão e firmeza a palavra da verdade na presença dos que estavam vivos. E quando ausente, ele vos escreveu cartas, que, se as lerdes cuidadosamente, vos edificarão...”
(Policarpo, Carta aos Filipenses, cap. 3)

Comentário:
Confirma a autoridade doutrinal das epístolas paulinas e sua aceitação pelas Igrejas, não como palavras pessoais, mas como palavra da verdade. Menciona especificamente a carta aos Filipenses.


3.3.4. Cânon Muratoriano (c. 170 d.C.)

O mais antigo catálogo conhecido dos livros canônicos do Novo Testamento diz:

“Quanto às epístolas de Paulo, ele mesmo, seguindo o exemplo de seu predecessor João, escreveu a sete Igrejas: aos Coríntios (uma vez), aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, aos Gálatas, aos Tessalonicenses (duas vezes), e aos Romanos. [...] Além disso, escreveu por afeição e amor uma só carta a Filemon, e duas a Timóteo e uma a Tito...”

Comentário:
Aqui se atesta a existência e canonicidade de 13 epístolas paulinas, além de reconhecer seu caráter doutrinário e universal. A carta aos Hebreus não é incluída, o que confirma que sua autoria paulina já era debatida no Ocidente.


4. Argumentos Textuais e Tradicionais

Entre os inúmeros testemunhos da Ressurreição de Cristo contidos no Novo Testamento, poucos são tão significativos, tanto do ponto de vista histórico quanto apologético, quanto o credo pascal transmitido por São Paulo em 1 Coríntios 15,3-5

Este texto, que consiste em uma fórmula de fé estruturada e repetível, é considerado por grande parte dos estudiosos — católicos, protestantes e mesmo seculares — como o registro mais antigo da fé na Ressurreição de Jesus.

O argumento da datação deste credo em torno do ano 35 d.C. é um dos mais fortes a favor da historicidade da Ressurreição, pois o situa a apenas dois a cinco anos após os acontecimentos da Páscoa

Esta proximidade temporal é historicamente sem paralelo em relação a outras religiões ou tradições, e representa um desafio insuperável às teorias que afirmam o desenvolvimento legendário ou tardio da fé cristã.


4.1. O Texto do Credo Pascal (1Cor 15,3-5)

“Pois transmiti-vos, antes de tudo, o que eu mesmo recebi:
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras;
que foi sepultado,
que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
que apareceu a Cefas, e depois aos Doze.”

Esta passagem é reconhecida como uma fórmula tradicional pré-paulina, pela estrutura rítmica, paralelística e cumulativa dos verbos, e pelo uso da expressão técnica:

  • “transmiti-vos” (παρέδωκα / paradidōmi)
  • “o que recebi” (παρέλαβον / paralambanō)

Esses termos são usados no judaísmo e no cristianismo primitivo para designar a transmissão fiel de uma tradição oral oficial (cf. 1Cor 11,23: sobre a instituição da Eucaristia).


4.2. Por que o Credo é anterior a Paulo?

  1. Linguagem e estilo: o grego da fórmula difere do estilo habitual de Paulo, e reflete traços semíticos, o que indica sua origem em um ambiente palestinense.

  2. Estrutura tripartida: “morreu — foi sepultado — ressuscitou — apareceu” forma uma cadência litúrgica, adaptada à memorização e proclamação oral.

  3. Cefas (Pedro): o uso do nome aramaico Cefas, em vez de Pedro, mostra que a tradição remonta aos primeiros círculos judeo-cristãos da Palestina.

  4. Paulo declara explicitamente tê-la recebido: ao afirmar “o que também recebi”, São Paulo distingue-se da fonte — e atesta sua transmissão anterior.


4.3. A Datação do Credo: Por que ano 35?

A cronologia básica é a seguinte:

  • A crucifixão de Cristo ocorreu em torno do ano 30 ou 33 d.C.
  • A conversão de Paulo deu-se cerca de 1 a 3 anos após (cf. At 9; Gl 1,15-18).
  • Após sua conversão, Paulo afirma em Gálatas 1,18 que três anos depois, subiu a Jerusalém e se encontrou com Pedro (Cefas) e Tiago, o irmão do Senhor.

Portanto:

  • Paulo provavelmente recebeu esse credo durante sua visita a Jerusalém, entre os anos 35 e 36 d.C., das próprias testemunhas oculares da Ressurreição.
  • O credo já devia estar formulado e em uso na liturgia ou catequese da Igreja antes de Paulo tê-lo recebido, o que empurra sua composição ainda mais próxima do ano 33 d.C., talvez dentro de meses após a Ressurreição.

Como afirma o estudioso (não-católico) James D. G. Dunn: 

“Este credo foi formulado e estava em uso dentro de meses após a morte de Jesus. Não há tempo para o surgimento de mitos ou lendas.”
(Jesus Remembered, 2003, p. 855)


4.4. Importância Apologética do Credo

  1. Proximidade temporal: é incomparavelmente próxima ao evento proclamado. Nenhuma outra tradição religiosa possui um testemunho tão imediato de seu milagre fundante.

  2. Origem apostólica: provém dos círculos mais antigos e autorizados da Igreja — Pedro, Tiago e os Doze.

  3. Conteúdo objetivo: proclama eventos históricos, corporais, públicos — não visões interiores ou experiências místicas subjetivas.

  4. Universalidade: o fato de Paulo usá-lo com os coríntios (comunidade grega) mostra que essa fórmula já era conhecida e aceita em comunidades fora da Palestina, o que exige tempo para sua propagação.

  5. Responde à objeção do desenvolvimento tardio: o conteúdo fundamental da fé cristã — morte redentora, sepultura real, ressurreição corporal e aparições visíveis — não é fruto de décadas ou séculos de elaboração, mas faz parte da proclamação desde os primeiros dias da Igreja.

4.5. Argumento do Silêncio

  • Nenhuma das cartas faz menção:
    • à perseguição de Nero (64 d.C.),
    • à destruição de Jerusalém (70 d.C.),
    • ou à morte dos apóstolos Pedro e Paulo.

Esse silêncio, sobretudo em cartas que tratam do futuro da Igreja e do sofrimento por causa de Cristo, seria inexplicável se tivessem sido escritas depois desses eventos.


5. Valor Teológico e Apologético da Datação Paulina

A datação precoce das epístolas paulinas tem implicações apologéticas decisivas:

  1. Proximidade temporal aos fatos

    • As epístolas foram escritas quando ainda viviam testemunhas oculares da Ressurreição. Não haveria espaço, portanto, para formação de mitos ou distorções doutrinais.
  2. Unidade doutrinal primitiva

    • As cartas revelam que a fé da Igreja nascente já era plenamente cristológica, trinitária e eclesial. Jesus é “Senhor”, “Filho de Deus”, “Filho do Homem”, “Cristo” – não mero profeta.
  3. Continuidade com a pregação oral

    • As epístolas paulinas não são invenções pessoais de Paulo, mas transmissões fiéis de uma tradição que ele mesmo “recebeu” (1Cor 15,3; Gl 1,12).

6. As afirmações da Ressurreição e da Divindade de Cristo nas Epístolas de Paulo

6.1. O Credo Pascal (1 Cor 15,3-8)

“Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; e que apareceu a Cefas, e depois aos Doze...” (1Cor 15,3-5)

Este é o testemunho mais antigo da Ressurreição. Trata-se de uma fórmula de fé (credo) que Paulo “recebeu” (grego: paralambanō) e transmite (paradidōmi), termos técnicos usados na Tradição para o depósito da fé. A maioria dos estudiosos a data entre 33 e 36 d.C., logo após a morte de Cristo.


6.2. A Ressurreição como Fundamento da Fé (1 Cor 15,17-20)

“Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados... Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que dormem.”

Aqui, Paulo declara que toda a fé cristã depende da veracidade da Ressurreição. A negação da ressurreição destruiria não apenas a esperança cristã, mas o próprio valor expiatório da cruz.


6.3. Ressuscitado para nossa justificação (Rm 4,25)

“O qual foi entregue por causa das nossas iniquidades, e ressuscitou para nossa justificação.”

A Ressurreição não é apenas um evento, mas parte essencial do plano salvífico: Cristo ressuscita como selo da reconciliação entre Deus e os homens, consumada no sacrifício da Cruz.


6.4. Cristo vive para sempre (Rm 6,9-10)

“Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre Ele. Pois quanto à sua morte, foi para o pecado que Ele morreu, uma vez por todas; mas quanto à sua vida, é para Deus que Ele vive.”

A Ressurreição é definitiva e gloriosa, superando a simples revivificação: trata-se de um novo modo de vida imperecível, que funda a nova criação.


6.5. Cristo ressuscitado como penhor da nossa ressurreição (1 Tess 4,14)

“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus levará com Jesus os que morreram n'Ele.”

A fé na nossa própria ressurreição futura depende da certeza da ressurreição de Cristo.


6.6. Jesus é chamado explicitamente “Deus” (Rm 9,5)

“...dos quais é o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito pelos séculos. Amém.”

Este é um dos mais explícitos testemunhos da divindade de Cristo nas epístolas. Ele é “Deus sobre todas as coisas”, bendito eternamente.


6.6. Cristo é o “Senhor” invocado no culto (1 Cor 1,2)

“...a todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.”

Invocar o nome de Jesus no culto é atribuir-Lhe adoração divina (cf. Jl 3,5). O título “Senhor” (Kyrios) aplica-se ao próprio Deus no Antigo Testamento e é aqui dado a Jesus.


6.7. Cristo é Filho de Deus com poder (Rm 1,3-4)

“...acerca de seu Filho, nascido da descendência de Davi segundo a carne, estabelecido Filho de Deus com poder segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo nosso Senhor.”

A Ressurreição manifesta a filiação divina eterna de Cristo. Ele é “Filho de Deus com poder”, o que alude à sua natureza divina operando com majestade.


6.8. Cristo é a Imagem do Deus invisível (Cl 1,15-17)

“*Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque n’Ele foram criadas todas as coisas... tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste por Ele.*”

Aqui São Paulo aplica a Jesus:

  • o título de “imagem do Deus invisível”, que indica identidade de natureza;
  • a função de criador de todas as coisas, o que só é próprio de Deus;
  • a existência eterna (“antes de todas as coisas”).

6.9. Em Cristo habita a plenitude da divindade (Cl 2,9)

“Porque n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.”

Trata-se de uma das mais diretas afirmações da divindade de Cristo. Ele possui em Si a plenitude do Ser divino, não por participação, mas essencialmente, e isso de forma “corporal”, ou seja, unida à natureza humana.


6.10. Cristo é exaltado acima de todo nome (Fl 2,9-11)

“Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”

Esta passagem aplica a Jesus o texto de Isaías 45,23, onde o Senhor Javé diz que todo joelho se dobrará a Ele. Paulo afirma que esse culto é prestado a Jesus — uma clara identificação com a divindade.


III. Síntese Teológica Tomista

Segundo Santo Tomás de Aquino, a fé na Ressurreição e na Divindade de Cristo:

  • procede de testemunhos históricos (os apóstolos),
  • é confirmada por sinais miraculosos (a própria ressurreição),
  • e é inseparável da verdadeira salvação, pois “não há salvação senão no nome de Jesus” (cf. Summa Theologiae, III, q. 53).

Conclusão

A tradição da Igreja sempre reconheceu as epístolas de São Paulo como de origem apostólica e anterior aos Evangelhos escritos. 

Os dados linguísticos, históricos, patrísticos e teológicos analisados confirmam essa posição com clareza. A cronologia provável das cartas, concentrada entre 50 e 62 d.C., testemunha a fidelidade da fé cristã às suas origens apostólicas.

A fé em Cristo crucificado e ressuscitado, longe de ser invenção tardia ou fruto de elaboração mítica, brota da própria boca dos apóstolos e discípulos que conviveram com o Senhor e O viram ressuscitado. As epístolas paulinas são, portanto, a voz viva da Tradição, registrada sob inspiração divina, e transmitida à Igreja como testemunho seguro e inerrante da fé salvífica.

“Fiz-me ministro do Evangelho, segundo a dispensação de Deus que me foi dada para convosco, para cumprir a palavra de Deus, o mistério escondido desde os séculos... Cristo em vós, esperança da glória.”
(Cl 1,25-27)


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