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Dentre os que nada sabem, Bart Ehrman se destaca

Em debates sobre a historicidade de Jesus, a confiabilidade dos Evangelhos e a origem da fé cristã, poucos nomes surgem com tanto destaque no meio acadêmico popular quanto o de Bart D. Ehrman. Antigo evangélico convertido ao agnosticismo, Ehrman se tornou uma figura central nas discussões sobre o cristianismo primitivo. Com grande habilidade retórica, ele alcançou o público leigo com livros provocativos como "O que Jesus disse? O que Jesus não disse?" ou "Como Jesus se tornou Deus", sempre desafiando a ortodoxia cristã.

Contudo, ao se examinar com mais cuidado os métodos e premissas de suas análises, fica claro que o brilho retórico muitas vezes mascara uma falta de rigor filosófico, teológico e mesmo histórico em suas conclusões mais audaciosas. E assim, no debate sobre a fé cristã, entre os que pretendem não saber nada com certeza, Bart Ehrman se destaca como aquele que mais confiantemente erra.




1. Ceticismo radical disfarçado de erudição

Ehrman parte de um princípio que, embora pareça imparcial, na verdade é altamente ideológico: milagres, por definição, são os eventos menos prováveis, e portanto, não podem ser objeto de validação histórica. Essa tese, herdada de David Hume, leva Ehrman a descartar a ressurreição de Jesus não com base em provas históricas contrárias, mas por definição filosófica.

Ou seja, não importa quantas testemunhas afirmem ter visto Jesus vivo, quantos relatos convergentes existam, ou como a fé dos apóstolos transformou o mundo. Para Ehrman, o simples fato de se tratar de um milagre é razão suficiente para excluir a possibilidade. Mas isso não é análise histórica — é naturalismo disfarçado de método.


2. Desconexão entre crítica textual e conclusões teológicas

Ehrman é, sem dúvida, um especialista em crítica textual. Seu trabalho técnico sobre variantes nos manuscritos do Novo Testamento é reconhecido. No entanto, ele usa sua competência em um campo específico para fazer afirmações generalizadas sobre teologia e história da fé cristã que não se sustentam nos dados.

Por exemplo, ao apontar que os manuscritos antigos têm variações, ele sugere ao público que isso mina a confiabilidade do Novo Testamento. Mas omite que:

  • Mais de 5.800 manuscritos gregos foram preservados.
  • As variações são, em sua grande maioria, ortográficas ou irrelevantes para a doutrina.
  • O Novo Testamento é, de longe, o texto antigo mais bem atestado da história da humanidade.

Ou seja, Ehrman grita onde a honestidade intelectual pediria silêncio ou sobriedade.


3. A "invenção" da divindade de Cristo: ignorância ou má-fé?

Em How Jesus Became God, Ehrman defende que a fé na divindade de Jesus só surgiu progressivamente entre os cristãos, e que os próprios Evangelhos teriam diferentes níveis de "cristologia", com João sendo o mais tardio e teologicamente mais "exagerado".

Mas essa tese ignora (ou omite) realidades claras:

  • As cartas de Paulo (anteriores aos Evangelhos) já falam explicitamente da divindade de Cristo (Filipenses 2:5-11, Colossenses 1:15-20).
  • As tradições orais cristãs que exaltam Cristo como Deus antecedem até mesmo essas cartas.
  • A fé em Jesus como divino não foi construída "de baixo para cima", mas faz parte da pregação apostólica original.

Portanto, a tese de que a divindade de Cristo foi um desenvolvimento tardio é insustentável quando confrontada com as fontes primárias — tanto cristãs quanto hostis.


4. A caricatura do fundamentalismo como espantalho apologético

Ehrman adota uma estratégia recorrente: combater uma caricatura da fé cristã. Ele opõe sua erudição à leitura fundamentalista e literalista da Bíblia, como se essa fosse a única forma válida de cristianismo tradicional. Ignora, contudo, que:

  • O cristianismo sempre afirmou que os textos sagrados devem ser lidos à luz da tradição e da razão, como ensina Santo Tomás de Aquino.
  • A doutrina da inerrância não exige que cada versículo seja lido literalmente no sentido de "interpretação ao pé da letra", mas sim, no sentido de que devemos chegar àquilo quer o autor sagrado teve intenção de escrever, levando em conta o contexto histórico e cultural no qual ele se inseria.
  • O método histórico-crítico, quando bem usado, confirma a solidez histórica dos Evangelhos, ao invés de enfraquecê-los.

Dessa forma, ao combater uma caricatura, Ehrman evita lidar com o cristianismo robusto da Tradição.


5. Entre o ceticismo absoluto e a confiança dogmática: a incoerência metodológica

O paradoxo de Bart Ehrman é este: ele exige evidência absoluta para aceitar qualquer afirmação cristã, mas toma liberdades extremas para propor alternativas frágeis. Por exemplo:

  • Propõe que os discípulos tiveram alucinações coletivas.
  • Supõe que os Evangelhos foram manipulados deliberadamente, sem apresentar manuscritos que sustentem essa hipótese.
  • Afirma que a tradição oral é falível, mesmo quando estudada dentro de uma cultura (judaica) altamente memorística e estruturada.

Seus critérios são, portanto, assimétricos e ideológicos. O que favorece a fé é descartado como "propaganda"; o que favorece a dúvida, por mais especulativo, é tratado como "ciência".


Conclusão: “Dentre os que nada sabem...”

A frase provocativa que dá título a este artigo, “Dentre os que nada sabem, Bart Ehrman se destaca”, é mais do que uma ironia. Ela expressa a crítica a uma forma de erudição que simula ignorância como método, que confunde dúvida sistemática com rigor e substitui a filosofia por ceticismo dogmático.

Ehrman representa não o que há de melhor no pensamento histórico-crítico, mas o que há de mais ideológico e limitado em sua aplicação moderna. A fé cristã não teme a razão, mas exige que ela seja honesta. E diante da honestidade intelectual, a Ressurreição de Cristo continua sendo o fato mais plausível e transformador da história.

Se Bart Ehrman realmente deseja encontrar a verdade — e não apenas impressionar plateias leigas — talvez precise, como Tomé, tocar as chagas da dúvida até reencontrar o real: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28).

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