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Jesus reivindicou ser Deus?

1. Introdução

No centro da fé cristã está uma afirmação sem paralelo entre todas as religiões e sistemas filosóficos da história: um homem judeu, crucificado sob Pôncio Pilatos, ressuscitou dos mortos e é o próprio Deus encarnado. Esta confissão, repetida no Credo Niceno-Constantinopolitano — “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro” — não nasceu em abstrações teológicas tardias, mas emergiu da própria vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, como foi testemunhado desde os primeiros dias do cristianismo.

No entanto, muitos críticos modernos têm colocado essa convicção em xeque, alegando que Jesus nunca afirmou ser Deus, especialmente nos Evangelhos Sinóticos — Mateus, Marcos e Lucas — e que essa doutrina seria resultado de um processo de mitologização posterior, cristalizado principalmente no Evangelho de João e nas definições conciliares dos séculos IV e V. Conforme argumentam teólogos liberais e céticos contemporâneos, Jesus teria sido apenas um mestre espiritual ou um profeta carismático, cuja divinização foi promovida por seus seguidores após sua morte, numa tentativa de justificar sua aparente derrota na cruz.

Este artigo tem por objetivo refutar essa tese, oferecendo uma análise rigorosa e detalhada dos Evangelhos Sinóticos, à luz do contexto histórico e religioso do judaísmo do século I, demonstrando que Jesus, de fato, reivindicou prerrogativas divinas, embora sem usar a linguagem ocidentalizada e direta como “Eu sou Deus”. Mostraremos que as palavras e gestos de Jesus nos Sinóticos foram compreendidos por seus contemporâneos como afirmações de divindade, o que justifica a acusação de blasfêmia e sua condenação à morte. Também veremos por que a fórmula moderna “Eu sou Deus” seria inadequada no contexto semítico em que Jesus viveu.

Para isso, recorreremos à exegese das principais passagens evangélicas, às reações dos líderes judeus, à lógica da teologia católica, e aos testemunhos das primeiras comunidades cristãs, especialmente nas epístolas paulinas e nos escritos patrísticos. Dialogaremos com autores clássicos como Santo Tomás de Aquino, Santo Irineu e Santo Atanásio, bem como com estudiosos modernos de renome, como Brant Pitre, Richard Bauckham, Larry Hurtado, N. T. Wright e Joseph Ratzinger (Bento XVI).

Diante da gravidade da pergunta — “Jesus se proclamou Deus?” — a resposta não é opcional. Pois, como afirmou C.S. Lewis: “Um homem que foi apenas um homem e disse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre moral. Ele seria um lunático – no mesmo nível de um homem que diz ser um ovo cozido – ou então seria o próprio Diabo do inferno.” A conclusão lógica é clara: ou Jesus é quem disse ser, ou é o maior impostor da história. Não há espaço para reduções confortáveis. Este estudo existe para demonstrar, pela análise racional e textual, que Jesus realmente afirmou ser Deus nos Evangelhos Sinóticos — e que seus ouvintes entenderam exatamente isso.


2. A objeção cética: “Jesus nunca disse ser Deus”

A crítica moderna à cristologia elevada dos Evangelhos baseia-se, em muitos casos, em um argumento de silêncio: nos Evangelhos Sinóticos, Jesus nunca teria dito “Eu sou Deus” de forma explícita. Essa afirmação serve de base para sustentar que a divindade de Cristo seria uma construção posterior, fruto de comunidades cristãs que reinterpretaram a vida de Jesus à luz da Ressurreição. O teólogo agnóstico Bart D. Ehrman, por exemplo, argumenta que “Jesus não afirmou ser Deus. As afirmações mais ousadas sobre a divindade de Jesus estão ausentes dos Evangelhos Sinópticos e aparecem apenas no Evangelho de João” (cf. How Jesus Became God, 2014). Para Ehrman e outros representantes do chamado “Jesus Seminar”, os textos mais antigos e confiáveis (isto é, os Sinóticos) retratam Jesus como um profeta apocalíptico, enquanto o Jesus divino é um produto posterior da fé da Igreja.

Segundo essa visão, passagens como João 8,58 (“Antes que Abraão fosse, EU SOU”) ou João 10,30 (“Eu e o Pai somos um”) não teriam base nos ensinamentos do Jesus histórico, mas seriam criações teológicas inspiradas por experiências místicas da comunidade joanina. O mesmo se diria das declarações cristológicas das epístolas de Paulo, que seriam produto de um desenvolvimento doutrinário posterior, descolado da figura real de Jesus.

Essa hipótese cética repousa em quatro pilares principais:

  1. Ausência da fórmula “eu sou Deus” nos Sinóticos.
  2. Diferença de estilo entre os Sinóticos e o Evangelho de João.
  3. Suposta evolução doutrinal desde uma cristologia baixa (humana) para uma alta (divina).
  4. Alegação de que o monoteísmo judaico impossibilitaria qualquer autodeificação.

Esses argumentos, porém, não resistem a uma análise cuidadosa das evidências internas e externas. Como demonstraremos ao longo deste artigo, Jesus afirmou sim sua divindade nos Sinóticos, mas o fez utilizando a linguagem e os símbolos compreensíveis a seus ouvintes judeus do primeiro século. Ele não disse “eu sou Deus” em grego moderno ou inglês contemporâneo, mas falou como um judeu do século I, profundamente enraizado nas Escrituras, na tradição profética e na expectativa messiânica.

Além disso, os próprios Evangelhos Sinóticos relatam a reação escandalizada dos líderes religiosos, que acusam Jesus de blasfêmia — algo que não ocorreria se ele tivesse apenas falado como profeta. A tese cética ignora também os critérios historiográficos aceitos por muitos estudiosos sérios: critério de dissimilaridade, múltiplas fontes, continuidade e descontinuidade, constrangimento, todos os quais corroboram a autenticidade das declarações de Jesus que implicam divindade.

Por fim, a objeção cética incorre em uma falácia anacrônica: julga os textos antigos segundo critérios modernos de expressão direta, esquecendo que grande parte da linguagem de Jesus é simbólica, parabólica e enraizada na tradição bíblica. Como apontou Joseph Ratzinger, “quem exige uma declaração moderna, direta, está pedindo a Jesus que fale como um europeu ilustrado, não como um rabino do século I”.

O que está em jogo, portanto, não é apenas uma frase isolada, mas o conjunto das ações e palavras de Jesus, seu modo de ensinar, seus milagres, sua maneira de interpretar a Lei, sua autoridade sobre o Templo, seu uso do título “Filho do Homem”, sua aceitação de adoração, sua morte sob acusação de blasfêmia e, sobretudo, o impacto único que Ele causou entre seus contemporâneos e seguidores imediatos. Tudo isso exige uma explicação coerente — e essa explicação é justamente a que a Igreja confessa desde o início: Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

3. Por que Jesus não disse literalmente “Eu sou Deus”?

Para muitos leitores modernos, acostumados com a linguagem direta e com a busca por declarações explícitas, parece estranho que Jesus, sendo Deus, não tenha dito de maneira clara: “Eu sou Deus”. Essa ausência é usada por críticos como argumento contra a divindade de Cristo, especialmente nos Evangelhos Sinóticos, onde se espera uma afirmação formal e inequívoca, quase como uma definição de catecismo.

Entretanto, esse tipo de expectativa é, em si, historicamente ingênua e teologicamente imprópria. Jesus não se manifestou como uma figura fora do tempo e da cultura, mas inserido no coração do judaísmo do século I, em um contexto profundamente teocêntrico, bíblico e simbolicamente carregado. Ele não era um mestre grego, nem um reformador ocidental; Ele era um judeu, conhecedor das Escrituras, do modo como Deus se revelava a Israel, e das formas pelas quais essa revelação era comunicada. Assim, é necessário compreender por que uma declaração direta como “eu sou Deus” seria, naquela época, não apenas imprópria, mas inútil e até contraproducente.

3.1. O vocabulário semítico não favorecia fórmulas abstratas

Primeiramente, a linguagem usada por Jesus e seus contemporâneos não era conceitual como a nossa. Os judeus do primeiro século não empregavam o termo “Deus” (em hebraico Elohim ou El) como um título pessoal que pudesse ser facilmente apropriado. Mesmo a pronúncia do Nome Sagrado (o Tetragrama, YHWH) era evitada em piedade, sendo substituída por títulos como Adonai (Senhor) ou HaShem (O Nome).

Assim, uma afirmação como “Eu sou Deus” soaria, para um judeu da época, blasfema ou absurdamente confusa. Os profetas não falavam dessa maneira, nem mesmo Moisés ou Elias — ainda que tenham sido mediadores únicos de Deus. O que se esperava de um homem piedoso era submissão a Deus, não autodeificação.

Jesus, portanto, não usou fórmulas modernas, mas expressou sua divindade por meio de gestos e títulos que carregavam um peso teológico específico, enraizados nas Escrituras. Como observou o Papa Bento XVI: “Jesus não poderia ter dito diretamente ‘Eu sou Deus’, pois isso não corresponderia à linguagem do Antigo Testamento e teria sido absolutamente incompreensível em seu tempo” (cf. Jesus de Nazaré, vol. I).

3.2. Jesus não veio afirmar um dogma abstrato, mas revelar uma Pessoa

Além disso, a missão de Jesus não era impor uma definição teológica, mas revelar-se gradualmente àqueles que estavam abertos à verdade. Em vez de simplesmente declarar “Eu sou Deus”, Ele convidava os ouvintes a verem suas obras, a escutarem suas palavras e, por meio delas, reconhecerem a identidade divina presente n’Ele. É o que vemos em Lucas 7,22, quando os discípulos de João Batista perguntam se Ele é o Messias: Jesus não responde com um “sim” seco, mas aponta para seus atos: “Ide contar a João o que ouvistes e vistes: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam...”. A verdade de sua missão não é imposta, mas revelada por sinais proféticos, para ser reconhecida no coração.

Em Mateus 16,17, quando Pedro declara: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus não o corrige, nem o chama de exagerado — ao contrário, Ele o proclama “bem-aventurado” por ter recebido tal revelação do Pai. Isso mostra que a identidade divina de Jesus não precisava ser verbalizada por Ele, pois estava sendo revelada por seus gestos e reconhecida por aqueles que tinham fé.

3.3. Jesus evitava afirmações que provocassem mal-entendidos

Uma declaração direta como “Eu sou Deus” poderia também levar seus ouvintes a interpretações erradas, como:

  • Que Ele estaria abolindo o monoteísmo, colocando-se como um segundo Deus independente.
  • Que Ele seria um deus pagão, como os imperadores romanos, usurpando adoração.
  • Que Ele estaria afirmando-se como uma manifestação de YHWH no mesmo modo como se esperava que o Templo, a Torá ou a Sabedoria o fizessem — mas sem base profética.

Jesus tinha total consciência da dureza de coração de muitos dos seus contemporâneos (cf. Mt 13,13-15). Por isso, não oferecia pérolas aos porcos, mas falava em parábolas, símbolos, enigmas e referências veladas, de modo que os humildes entendessem e os soberbos tropeçassem (cf. Mt 11,25).

Como afirmou o Papa Bento XVI, “Jesus quer levar os homens à descoberta progressiva de quem Ele é... e isso se dá dentro de uma pedagogia divina que respeita o tempo e a liberdade da fé” (cf. Jesus de Nazaré, vol. II). Ele se revela não com imposição autoritária, mas com paciência misericordiosa, permitindo que a verdade se imponha pela própria luz.

3.4. Os próprios milagres e ações de Jesus substituem a fórmula

Se Jesus não disse “eu sou Deus”, Ele fez o que somente Deus pode fazer:

  • Perdoar pecados (Mc 2,5-10).
  • Calmar o mar com uma palavra (Mc 4,39).
  • Reescrever a Lei de Moisés (Mt 5).
  • Reivindicar ser Senhor do sábado (Mc 2,28).
  • Aceitar adoração (Mt 14,33; Mt 28,9).
  • Ressuscitar os mortos e dar a própria vida voluntariamente (Lc 7,11-17; Mc 10,45).
  • Dizer-se “o Filho” de maneira única, distinto de todos os homens (Mt 11,27).

Seus gestos eram inequivocamente divinos. E, como veremos adiante, os judeus entenderam bem o que esses gestos implicavam, tanto que o acusaram de blasfêmia (Mc 2,7; Mc 14,64). A ausência da frase “Eu sou Deus” não é ausência de revelação, mas prova de que Deus age segundo a pedagogia própria da salvação.


4. O que significava “ser Deus” para um judeu do século I?

Para compreender o escândalo que Jesus provocou em seus contemporâneos — e, com isso, interpretar corretamente suas palavras e gestos — é necessário investigar: o que significava, para um judeu do século I, que alguém reivindicasse prerrogativas divinas? Em outras palavras, como um judeu piedoso entendia “ser Deus”?

O judaísmo do tempo de Jesus era profundamente monoteísta. O Shemá Israel, oração central da fé hebraica, era recitada todos os dias: “Ouve, ó Israel: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6,4). A confissão da unicidade de Deus era o traço distintivo de Israel, especialmente em contraste com os politeísmos do mundo pagão (egípcio, grego, romano). Adorar qualquer outro que não fosse o único YHWH era idolatria — e idolatria era o maior dos pecados.

Mas, ao mesmo tempo, o Antigo Testamento preparava o coração dos fiéis para esperar que o próprio Deus visitasse seu povo. Diversas profecias anunciavam que o próprio Senhor viria reinar, perdoar, julgar, pastorear e restaurar Israel:

  • “O Senhor é o nosso juiz, o Senhor é nosso legislador, o Senhor é nosso rei: é Ele quem nos salvará” (Is 33,22).
  • “Eis que o Senhor Deus virá com poder... Como um pastor, Ele apascentará o seu rebanho” (Is 40,10-11).
  • “Eu mesmo buscarei as minhas ovelhas e as congregarei” (Ez 34,11).
  • “E virá repentinamente ao seu Templo o Senhor, a quem buscais... Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda?” (Ml 3,1-2).

Esses textos e muitos outros criaram no imaginário religioso judeu a expectativa de que o próprio YHWH viria um dia — talvez por meio de sua Sabedoria, seu Espírito, sua Glória — visitar e restaurar seu povo. Esse retorno seria, ao mesmo tempo, julgamento, perdão e salvação.

Além disso, o Antigo Testamento apresentava uma figura misteriosa em Daniel 7: o “Filho do Homem”, que vem sobre as nuvens do céu, é conduzido até o Ancião de Dias (Deus), e recebe domínio eterno e culto de todos os povos (Dn 7,13-14). Esse “Filho do Homem” não é um anjo, nem um profeta comum: ele é entronizado no céu e adorado, o que no judaísmo só pode ser feito com relação ao próprio Deus.

Outro dado importante: os judeus sabiam que somente Deus podia perdoar pecados em sentido último (cf. Is 43,25; Sl 103,3), somente Deus era Senhor do sábado (cf. Ex 20,11), somente Deus podia ser adorado, somente Deus era fonte de vida. Portanto, qualquer homem que se apresentasse como aquele que perdoa em nome próprio, que corrige a Lei de Moisés, que aceita adoração, que diz ser maior que o Templo ou o sábado, que fala de si como o herdeiro de Deus, ou que reivindica vir sobre as nuvens celestes — estaria, na mentalidade judaica, colocando-se na posição divina.

Como observa Richard Bauckham, em seu livro Jesus and the God of Israel, o monoteísmo judeu do Segundo Templo não era apenas quantitativo (“só há um Deus”), mas qualitativo: certas funções e atributos eram exclusivas da identidade de Deus — “a criação, o governo do universo, o juízo final, o perdão de pecados e a recepção de culto”. Bauckham demonstra que os cristãos do primeiro século incluíram Jesus dentro dessa identidade única, não como segundo deus, mas como o Filho consubstancial ao Pai, digno das mesmas funções e honra.

Da mesma forma, Larry Hurtado, em sua monumental obra Lord Jesus Christ, mostra que a adoração a Jesus — evidenciada por orações, hinos, batismo em nome de Jesus, invocação de seu nome — começou desde os primeiros anos após a Ressurreição, o que só pode ser explicado se os discípulos compreenderam que Jesus reivindicava essa identidade divina.

Portanto, para um judeu do século I, Jesus não precisava dizer “eu sou Deus”. Bastava agir como Deus age e reivindicar prerrogativas que pertencem exclusivamente a YHWH. E foi exatamente isso o que Jesus fez.

5. Declarações de Jesus que implicam divindade nos Evangelhos Sinóticos

À luz do que foi exposto sobre o contexto judaico do século I, torna-se evidente que Jesus, nos Evangelhos Sinóticos, faz repetidas afirmações — explícitas no contexto — que só podem ser interpretadas como reivindicação de prerrogativas divinas. A seguir, analisaremos algumas das passagens mais relevantes, com base exegética e histórica.


5.1. Jesus perdoa pecados em seu próprio nome (Marcos 2,1-12)

Uma das passagens mais claras é o episódio da cura do paralítico em Cafarnaum:

“Filho, os teus pecados estão perdoados.” (Mc 2,5)

Os escribas presentes reagem de imediato:

“Por que fala assim este homem? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?” (Mc 2,7)

Jesus, conhecendo-lhes os corações, responde:

“Para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados...” — disse ao paralítico — “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Mc 2,10-11).

No judaísmo, o perdão pleno dos pecados — especialmente os cometidos contra Deus — só podia ser concedido por Deus diretamente, ou então por meio do sistema sacrificial do Templo. Nenhum profeta ou mestre jamais se atreveu a perdoar pecados em nome próprio. Jesus não apenas declara o perdão, como não invoca nenhuma autoridade externa (como “assim diz o Senhor”); Ele age com autoridade divina. E quando é acusado de blasfêmia, não recua, mas reafirma sua autoridade, confirmando-a com um milagre.

Como observa Brant Pitre: “Jesus se comporta como se Ele mesmo fosse o Templo, o sacerdote e o próprio Deus ofendido. Era como se dissesse: 'Você não precisa ir ao Templo — o perdão está aqui, agora, em mim.'” (cf. The Case for Jesus, cap. 7).

Conclusão: Perdoar pecados, em nome próprio, é reivindicar uma prerrogativa exclusiva de Deus. Os escribas entenderam corretamente: Jesus estava, de fato, se fazendo Deus.


5.2. Jesus declara-se “Senhor do sábado” (Marcos 2,23–28)

Ao ser acusado de permitir que seus discípulos colhessem espigas no sábado, Jesus conclui sua resposta com uma declaração chocante:

“O Filho do Homem é senhor também do sábado.” (Mc 2,28)

O sábado era um dos pilares da identidade religiosa judaica, instituído pelo próprio Deus na criação (Gn 2,3) e sancionado pela Lei (Ex 20,8-11). Ser “senhor do sábado” é reivindicar autoridade sobre a própria Lei de Deus — algo que nenhum rabino ou profeta jamais ousou fazer. Como afirma Raymond Brown, “ao afirmar-se senhor do sábado, Jesus reivindica um senhorio que só pode pertencer ao próprio Autor da Lei”.

Além disso, Jesus ensina que “o sábado foi feito para o homem”, invertendo completamente a lógica dos fariseus legalistas. Ele se apresenta como legislador, não apenas como intérprete.

Conclusão: Ao dizer-se “senhor do sábado”, Jesus se posiciona como superior à Lei, o que implica autoridade divina. Nenhum homem pode se declarar superior a uma instituição estabelecida por Deus sem, com isso, se colocar no lugar do próprio Deus.


5.3. A parábola dos vinhateiros homicidas (Marcos 12,1-12)

Jesus conta a história de um senhor que planta uma vinha, arrenda a lavradores, envia servos (profetas), e por fim envia seu próprio filho, o herdeiro. Os lavradores matam o filho, pensando que poderão tomar sua herança.

“Ainda tinha ele um filho, o seu bem-amado; por fim, o enviou a eles, dizendo: ‘Respeitarão meu filho.’” (Mc 12,6)

Os ouvintes sabiam que a vinha representava Israel (cf. Is 5,1-7), os servos eram os profetas, e o dono era Deus. Mas o “filho bem-amado” — enviado por último, distinto dos servos — representa Jesus, que aqui se apresenta como o Filho único de Deus, o herdeiro, superior a todos os profetas.

Nenhum profeta jamais afirmou ser o “herdeiro” de Deus. Como comenta Scott Hahn, “ao contar esta parábola, Jesus afirma ser mais que um mensageiro: Ele é o herdeiro divino, o Filho do Senhor da vinha, cuja autoridade é igual à do Pai” (cf. A Father Who Keeps His Promises).

A reação dos chefes religiosos é reveladora: “Compreenderam que falava contra eles e queriam prendê-lo” (Mc 12,12). O escândalo não foi por acaso: Jesus reivindica aqui uma posição única, divina, distinta da de qualquer profeta.

Conclusão: A parábola revela a consciência de Jesus de ser o Filho único e amado de Deus, e coloca os líderes judeus como responsáveis por sua morte, prefigurando a cruz. Isso é mais que messianismo: é uma reivindicação da própria filiação divina.


5.4. O título “Filho do Homem” e a referência a Daniel 7 (Marcos 14,61-64)

Durante o julgamento no Sinédrio, o sumo sacerdote pergunta diretamente:

“És tu o Cristo, o Filho do Bendito?”

Jesus responde:

“Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.” (Mc 14,62)

O sumo sacerdote rasga as vestes e diz:

“Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia. Que vos parece?” E todos o julgaram réu de morte (Mc 14,63-64).

Aqui Jesus une duas passagens do Antigo Testamento de altíssimo teor teológico:

  • Salmo 110,1: “Senta-te à minha direita”.
  • Daniel 7,13-14: o “Filho do Homem” vindo sobre as nuvens do céu, entronizado junto a Deus e adorado por todas as nações.

A linguagem é nítida: Jesus está reivindicando compartilhar o trono divino, algo inconcebível para o judaísmo, que via o trono de Deus como único e exclusivo.

Como resume Brant Pitre: “Ao citar Daniel 7, Jesus diz que virá nas nuvens — algo que, nas Escrituras, somente Deus faz. Ao citar o Salmo 110, declara-se sentado à direita de Deus — ou seja, compartilha da autoridade divina. Os líderes entenderam perfeitamente: Jesus estava se colocando no lugar de Deus” (cf. The Case for Jesus, cap. 9).

A acusação formal foi: blasfêmia — por se fazer igual a Deus. Isso só teria sentido se a resposta de Jesus tivesse sido uma reivindicação de divindade.

Conclusão: Esta é uma das passagens mais diretas nos Sinóticos em que Jesus confirma explicitamente sua identidade divina, segundo a lógica das Escrituras hebraicas. E o Sinédrio entendeu exatamente assim.


5.5. Jesus aceita adoração (proskynein) — Mateus 14,33; 28,9.17

Após Jesus caminhar sobre as águas e acalmar a tempestade, os discípulos prostram-se diante Dele, dizendo:

“Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus.” (Mt 14,33)

Após a Ressurreição, as mulheres o encontram:

“Aproximaram-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram.” (Mt 28,9)

E os apóstolos, ao vê-lo ressuscitado:

“O adoraram, embora alguns ainda duvidassem.” (Mt 28,17)

Análise: O termo usado é proskynein, o mesmo utilizado na Septuaginta e no Novo Testamento para adorar a Deus (cf. Mt 4,10; Ap 19,10). No judaísmo, adorar a qualquer criatura era idolatria. Nenhum profeta aceitou adoração: quando Cornélio tenta adorar Pedro, ele o impede (At 10,25-26). Quando João tenta adorar um anjo, este o repreende (Ap 19,10).

Jesus, porém, aceita a adoração. Ele não a recusa, não a reprova, porque ela lhe é devida.

Conclusão: Ao aceitar adoração, Jesus se apresenta como digno de culto divino. Isso é um indício claro de sua identidade como Deus encarnado.


5.6. Jesus como objeto da fé salvífica (Lucas 7,50; Mt 10,37)

Jesus diz à mulher pecadora:

“A tua fé te salvou. Vai em paz.” (Lc 7,50)

Em Mateus:

“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim.” (Mt 10,37)

Análise: No Antigo Testamento, a fé salvífica é depositada exclusivamente em Deus (cf. Sl 62,9; Is 45,22). Jesus se coloca como objeto dessa fé, e mais: exige ser amado acima de tudo — até dos pais, o que só Deus pode exigir (Dt 6,5).

Conclusão: Jesus se apresenta como destinatário do amor supremo e da fé salvífica, algo que no judaísmo era exclusivo do Senhor. Isso implica uma autocompreensão divina.


Estas passagens compõem apenas uma parte do todo, mas já demonstram que Jesus, nos Evangelhos Sinóticos, fala e age como Deus — e os judeus de sua época entenderam isso, como veremos a seguir na análise das reações dos seus contemporâneos.

6. A reação dos líderes judeus como prova da reivindicação de divindade

Um dos indícios mais decisivos de que Jesus, nos Evangelhos Sinóticos, realmente reivindicou ser Deus, está justamente na reação de seus contemporâneos — especialmente dos escribas, fariseus e sumos sacerdotes. Reação esta que culminou em sua acusação formal por blasfêmia e sua condenação à morte.

Pergunta-se: por que Jesus foi crucificado? Se Ele fosse apenas mais um rabino entre muitos, ou um mestre espiritual com doutrinas de amor e compaixão, o que motivou tamanha hostilidade? A resposta, conforme os próprios Evangelhos, é clara: Jesus foi condenado porque se apresentou como aquele que detinha prerrogativas divinas, e isso, para os chefes religiosos do judaísmo, era uma blasfêmia intolerável.

6.1. A acusação formal: blasfêmia

No episódio da cura do paralítico (Mc 2,1-12), como já vimos, os escribas dizem:

“Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão Deus?” (Mc 2,7)

No julgamento diante do Sinédrio, após a resposta de Jesus unindo Daniel 7 e o Salmo 110, o sumo sacerdote rasga as vestes e declara:

“Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece?” E todos o julgaram réu de morte. (Mc 14,64)

A blasfêmia, segundo o Antigo Testamento, é um crime capital (cf. Lv 24,16). Trata-se de atribuir-se prerrogativas que pertencem somente a Deus, ou ultrajar diretamente o Nome divino. Jesus, ao identificar-se como o Filho do Homem glorioso de Daniel 7 — que se assenta ao lado de Deus e é servido por todas as nações — reivindica para si exatamente isso. E os líderes religiosos entenderam perfeitamente.

Joseph Ratzinger, em Jesus de Nazaré, comenta:

“A acusação de blasfêmia, diante do Sinédrio, mostra que Jesus foi condenado não por mal-entendidos, mas porque sua pretensão foi levada a sério — e rejeitada como inadmissível.”

Não há ambiguidade. O escândalo não foi por alguma doutrina moral, mas porque Jesus se colocou na esfera divina, e os chefes do povo reagiram da única forma que seu sistema religioso permitia: com condenação.

6.2. Tentativas de apedrejamento

Embora os Evangelhos de João relatem com mais frequência tentativas de apedrejamento (Jo 5,18; Jo 10,33), mesmo nos Sinóticos vemos crescente hostilidade com base nas afirmações e gestos de Jesus:

  • Quando perdoa pecados (Mc 2), é acusado de blasfêmia.
  • Quando entra em Jerusalém aclamado como Filho de Davi e expulsa os vendilhões do Templo (Mc 11), os sumos sacerdotes decidem matá-lo (Mc 11,18).
  • Quando conta a parábola dos vinhateiros, percebem que fala deles e procuram prendê-lo (Mc 12,12).
  • No fim, diante da pergunta “És tu o Cristo?”, sua resposta leva o sumo sacerdote a invocar a blasfêmia formalmente (Mc 14,61-64).

Conclusão: Os líderes judaicos reconheceram nas palavras e ações de Jesus uma reivindicação divina, e responderam conforme a lógica interna de sua Lei e tradição. Isso demonstra que as afirmações de Jesus, mesmo que não tenham usado a frase moderna “Eu sou Deus”, foram compreendidas como tal.

6.3. O silêncio de Jesus: a humildade do Verbo

Outro ponto importante é que, mesmo diante da acusação de blasfêmia, Jesus não tenta se defender dizendo que foi mal interpretado. Ele não recua, não se desculpa, não tenta suavizar sua identidade. Ele permanece firme, mesmo sabendo que sua declaração o levaria à cruz. Como diz Isaías 53,7: “Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca.”

Esse silêncio diante do Sinédrio não é covardia. É a confirmação silenciosa da verdade, de quem sabe que sua missão exige o sacrifício e que a plenitude de sua glória só será manifesta na Ressurreição.



Conclusão – Jesus afirmou ser Deus: a verdade proclamada nos Evangelhos Sinóticos

A tese de que Jesus jamais afirmou ser Deus nos Evangelhos Sinóticos não resiste a uma análise honesta dos textos, do contexto e das consequências. Embora não tenha dito com a clareza moderna a frase “Eu sou Deus”, Jesus o fez com a clareza semítica, com a linguagem das Escrituras, com os títulos e gestos que, no judaísmo do século I, só podiam ser atribuídos ao próprio Deus.

Ele perdoou pecados, reivindicou ser Senhor do sábado, aceitou adoração, reinterpretou a Lei, chamou-se Filho único e herdeiro de Deus, colocou-se como o Filho do Homem glorioso de Daniel 7, e declarou-se digno de estar à direita do Pai. Diante disso, os líderes religiosos o acusaram de blasfêmia. E o fizeram porque entenderam perfeitamente o que Ele estava dizendo.

Ao contrário da acusação cética, a cristologia elevada não foi um desenvolvimento tardio. Ela já está implícita na vida e na palavra de Jesus, e explícita nas primeiras confissões de fé da Igreja, nas cartas paulinas e nos testemunhos dos mártires e Padres da Igreja. A convicção de que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem nasceu da fé pascal, sim — mas essa fé pascal não criou do nada a divindade de Jesus: ela a reconheceu como verdade à luz da Ressurreição.

A ausência da fórmula “Eu sou Deus” é pedagogia divina, não omissão. Jesus falou e agiu de maneira a revelar-se progressivamente, convidando seus ouvintes a uma descoberta espiritual, e não a uma aceitação passiva de um dogma imposto. E, como disse São Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Palavras que, ao serem ditas, eram proferidas pelo próprio Verbo feito carne.

Negar que Jesus afirmou ser Deus é fazer de seus acusadores ignorantes, de seus discípulos enganados, e de seus mártires tolos. Mas os fatos mostram o contrário: seus acusadores o crucificaram por blasfêmia; seus discípulos deram a vida proclamando que Ele é o Senhor; e os mártires entregaram o sangue porque creram que Jesus era o próprio Deus encarnado, morto e ressuscitado.

A única resposta racional e honesta ao que os Evangelhos Sinóticos revelam é esta: Jesus de Nazaré sabia quem era, e afirmou, com palavras, sinais e poder, ser o Filho eterno do Pai, Deus verdadeiro vindo em carne, o Salvador prometido e o Juiz do mundo.

Como disse Santo Tomás de Aquino: “Cristo deu sinais suficientes de sua divindade para que quem quisesse crer, cresse; e para que quem não cresse, fosse réu da sua incredulidade.”

Jesus afirmou ser Deus. E a história, a razão e a fé O reconhecem como tal.

Et Verbum caro factum est, et habitavit in nobis.


BIBLIOGRAFIA

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001. (Edição completa em vários volumes; especialmente III, q. 16-27).

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